Ep 4: Terra Preta, 2022
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Ep 4: Terra Preta, 2022

Takumã Kuikoro
Tempo de execução: 17.12

Takumã Kuikuro

A terra preta indigena é ao mesmo tempo objeto de pesquisa da arqueologia, técnica agrícola ancestral e ferramenta de luta pela demarcação de terra. Formada ao longo de séculos pelos restos orgânicos deixados por moradores de antigas aldeias e das atuais aldeias, a terra preta é a prova que o rico solo amazônico é resultado de uma longa, viva e harmoniosa troca entre humanos e não humanos, e que a sua floresta é muito mais jardim do que mata virgem.

Este reconhecimento gera uma situação contraditória, pois, ao mesmo tempo em que a terra preta é a mais cobiçada pelo agronegócio por ser a terra mais fértil, a sua existência é suficiente para demarcar terras inteiras e assim poupá-las de uma exploração sempre predatória. Ela prova que os povos originários são aqueles que desenharam essa geologia e, portanto, mesmo que não se coloquem como os donos da terra, eles pertencem a ela.

As duas entrevistas deste episódio foram realizadas por Takumã Kuikuro, cineasta do povo Kuikuro e residente no Parque Indígena do Xingu, uma das maiores reservas indígenas do mundo, localizada na região nordeste do Estado do Mato Grosso e na porção sul da Amazônia brasileira. O Parque reúne 16 povos em uma superfície equivalente à Bélgica. Apesar de ser um polo de preservação ambiental, vive sob ameaças constantes do agronegócio, das barragens hidroelétricas e da poluição gerada pela mineração ao seu redor.

Takumã conversou com os seus pais, Saguiga e Tapualu Kuikuro, reconhecidas lideranças xinguanas. Eles trazem à tona a relação íntima e ancestral de seus corpos com a terra. Em suas falas, tempo histórico e tempo mitológico se misturam, a presença de uma aldeia antiga com as trapaças do sapo pipa, os gestos dos antepassados com o papel dos espíritos. Assim como o tempo que roda em espiral, suas falas também andam em círculo, e as palavras se repetem ao longo da conversa para se tornarem o refrão de uma história contada de pais para filhos. 

Assim, descobrimos que o que apodrece hoje é o solo para a vida amanhã.

Benjamin Seroussi

Diretor artístico, Casa do Povo

Tapualu Kuikuro | Nasceu e cresceu na aldeia Kalapalo. Tornou-se historiadora com o seu pai. Participou do filme Imbé Gikegü, O cheiro de pequi (2006, realização do Coletivo Kuikuro de Cinema e produção do Vídeo nas Aldeias, Aikax – Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu e Documenta Kuikuro/Museu Nacional). Apoia o trabalho do seu filho, o cineasta Takumã Kuikuro. Atualmente mora na aldeia Ihumba terra indígena do Xingu MT.

Sagigua Kuikuro | Pajé, cresceu aprendendo as histórias do seu próprio povo. Cantor tradicional e historiador, participou do filme Nguné Elû, O dia em que a lua menstruou (2004, realização do Coletivo Kuikuro de Cinema, e produção do Vídeo nas Aldeias) e do filme Imbé Gikegü, O cheiro de pequi (2006, realização do Coletivo Kuikuro de Cinema, e produção do Vídeo nas Aldeias, Aikax – Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu e Documenta Kuikuro/Museu Nacional). Atualmente mora na aldeia Ihumba na terra indígena do Xingu MT.